Restore the Magic: A nova era da Disney e como isso pode impactar o mercado audiovisual
- hiagocordioli
- 10 de jun. de 2023
- 3 min de leitura

A Walt Disney Company tem um longo histórico de sucesso financeiro e criativo, construído sobre a capacidade de alavancar sua rica propriedade intelectual e narrativa incomparável em seus muitos negócios, desde o teatro, o streaming e a televisão a parques e resorts, e um dos nomes mais ressonantes em esportes, a ESPN.
Na década passada, a Disney ainda adquiriu as produtoras de filmes Marvel Studios, responsável por sucessos estrondosos como os Os Vingadores, e a Lucasfilm, que deu ao mundo a lendária franquia Star Wars. Ainda, em um movimento que pode consolidar os estúdios Disney como indestrutível e inalcançável perante seus concorrentes, adquiriu um dos maiores conglomerados de mídia dos Estados Unidos, a 21st Century Fox.
Contudo, apesar das vantagens significativas da Disney, o preço recente das ações e o desempenho operacional têm sido decepcionantes para seus investidores, o que motivou a proeminente empresa de gestão de ativos Trian Partners a iniciar uma campanha online chamada "Restore the Magic" (em tradução livre, "Restaure a Magia"), para nomear o empresário Nelson Peltz para o conselho de diretores da Disney, contra o que a companhia vinha relutando.
Como explicar esse fenômeno?
Talvez possamos encontrar respostas nas acusações de condições insalubres de trabalho dos artistas de efeitos visuais da Marvel Studios, que alegaram trabalhar sob muita pressão para cumprir prazos extremamente apertados, tendo em vista o calendário frenético de lançamentos de filmes e séries dos estúdios responsáveis pelos filmes de super-heróis. Esse fator é importante para percebermos como funciona a indústria cinematográfica atualmente: quantidade em vez de qualidade.
Isto também se reflete na queda das bilheterias dos filmes mais recentes, motivadas por roteiros previsíveis e baseados em histórias reutilizadas - desprezando a criatividade, inovação e qualidade técnica -, apostas em franquias (como Toy Story e Frozen) e forçando temas políticos e quiçá pesados demais para o público-alvo primário da companhia onde sonhos se tornam realidade, as crianças. Por essas razões, a Trian Partners baseou seu manifesto na ideia de "trazer a magia de volta", pois entendem que o estúdio se distanciou muito dos fundamentos lançados pelo genial Walt Disney.
O atual CEO da Disney Bob Iger, que já havia ocupado o cargo de 2005 a 2020, tendo retornado em novembro de 2022, com mandato de dois anos. O conselho diretor da Disney resolveu recontratá-lo por sua profundidade de experiência no setor para adaptar o modelo de negócios para o cenário de mídia em mudança, reequilibrando o investimento com a oportunidade de receita, ao mesmo tempo em que traz um foco renovado no talento criativo que tornou a The Walt Disney Company a inveja da indústria.
Iger já tomou medidas decisivas para realinhar a criação e distribuição de conteúdo e reposicionar as plataformas de streaming da Disney e as redes de TV para aumentar a lucratividade da empresa.
Uma nova estrutura organizacional reduzirá os custos operacionais em US$ 2,5 bilhões, com mais US$ 3 bilhões a serem cortados dos gastos com conteúdo, juntos equivalentes a 8% das despesas; 7.000 funcionários irão embora. Para conter as perdas financeiras em seu serviço de streaming Disney+, em dezembro, Iger elevou os preços das assinaturas nos Estados Unidos em 38%. A Disney ficará de fora da "corrida armamentista global por assinantes", diz ele. Em vez disso, ele insinuou que pode licenciar mais de seu catálogo para plataformas concorrentes para obter lucros. Para completar, a Disney retornará o pagamento de dividendos até o final de 2023.
O CEO indicou a maneira como as plataformas de streaming entregam muito volume e pouca qualidade e está comprometido em melhorar o conteúdo. “Como as plataformas de streaming exigem tanto volume, é preciso questionar se essa é a direção certa a seguir, ou se você pode ser mais curado, mais exigente sobre o que você está fazendo e se concentrar na qualidade e não no volume."
Certamente, podemos esperar que outras plataformas de streaming também irão seguir o movimento de revisão dos conteúdos próprios produzidos em larga escala.
Também podemos supor que, de fato, a qualidade do entretenimento audiovisual que consumimos possa melhorar, atraindo mais público para cinemas, TVs e streamings e injetando maiores recursos nessas áreas.
Ainda, devemos ficar atentos para que as condições de trabalho dos artistas envolvidos nessa indústria tenham mudanças positivas, com a diminuição da pressão de entrega de muitos conteúdos em pouco tempo.
Todavia, resta aguardar para vermos como a Disney se sairá na atual "guerra dos streamings" e se as ações do atual CEO irão ser suficientes para agradar seus acionistas e seu público.
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